Economia básica
- Ivan Hegen
- 13 de abr. de 2019
- 3 min de leitura
Até a crise econômica de 2015, meus conhecimentos em economia eram tão insignificantes quanto os de Bolsonaro. Diferentemente dele, eu nunca votei orçamento na Câmara nem me preparei para ocupar a presidência. Eu não era cobrado por eleitores, mas mesmo me sentindo frustrado com minha incapacidade de debater com especialistas, atribuía toda divergência a diferenças ideológicas. Hoje reconheço a importância de se conhecer ao menos o básico de economia.
Veio a crise de 2015 e me senti na obrigação de estudar algo sobre o buraco negro. A exigência aumentou quando apareceram propostas indecentes para colocar a crise nas costas dos trabalhadores, como a PEC do teto dos gastos, a reforma trabalhista e a reforma da previdência. Continuo não tendo grande domínio técnico, mas acumulei o suficiente para não passar recibo de idiota tão fácil. O interessante é notar que a manipulação da direita é tão deslocada da realidade que não precisamos chegar ao mesmo nível do Ladislau Dowbor ou da Laura Carvalho para desmascarar muito discurso ensaiado.
Basta entender de economia um pouco mais do que o maluco que não nasceu para ser presidente. Se ele não sabe, nós sabemos: os pobres e a classe média não são os responsáveis pela crise econômica e não têm de pagar a conta. A crise tem vários fatores e todos eles se referem a práticas voltadas ao lucro dos ricos. Não caiam na conversa do Estado mínimo, não se sintam um peso no orçamento do país que precisa ser aliviado com o corte de seus direitos.
É claro que existe um problema fiscal, mas se a gente não entender de onde veio, aceita as propostas que vêm justamente dos maiores responsáveis pela crise. Afinal não foi gente do mercado financeiro, como Paulo Guedes, que: estabeleceu taxas indecentes desde os anos 90 e depois boicotou a tentativa da Dilma de reduzir a Selic? que, no contexto mundial, desregulou o mercado financeiro dos EUA, montou a armadilha que deu no colapso de 2008 e destruiu o bom cenário externo? que tem influência global para fazer jogo geopolítico com o preço do petróleo, de olho na Venezuela, na Rússia e no pré-sal? que incentivou a crise política para um impeachment sem fundamento, gerando uma instabilidade catastrófica? que cobra um ajuste fiscal tão sufocante que paralisa o consumo e afunda a atividade econômica?
Claro que uma parte do desastre pode ser atribuído à Dilma, não vamos ser bolsominions de sinal trocado. Faltou competência para lidar melhor com condições adversas. O pior do primeiro mandato de Dilma foram as isenções tributárias para grandes empresas. Mas é bom lembrar que quase todos os deputados (com exceção notável do PSOL) votaram a favor dessa medida, que ironicamente foi proposta pela FIESP. No segundo mandato, 2015, Joaquim Levy "mãos-de-tesoura" foi um erro, embora me pareça justo dizer que foi um erro sob achaque do mercado financeiro (teria sido melhor que Dilma enfrentasse os banqueiros, mas é correto dizer que ela nomeou Levy a contragosto).
Chegando ao ponto mais delicado. É claro que em um Brasil ideal livre de corrupção, não haveria o escândalo do Petrolão para minar a credibilidade. No entanto, mesmo que a Lavajato não fosse parcial e antidemocrática como foi, a verdade é que não tem como atacar todas as grandes empreiteiras de uma vez sem abalar drasticamente a atividade econômica. Pela matemática, foi bem maior o prejuízo do combate à corrupção, ao interromper inúmeras obras pelo país e gerar pessimismo, do que o dinheiro resgatado. Não é para ninguém gostar de corrupção, mas a noção de que o Brasil quebrou por causa da roubalheira do PT não se fundamenta em números. É muito mais pesado para o país sustentar as altas taxas da Selic do que os desvios dos esquemas que geraram tantas manchetes. É mais imoral e nociva para a sociedade a política dos banqueiros, mas isso a mídia encobre para satisfazer seus patrocinadores.
O saldo da Lavajato é negativo, não apenas porque na ponta do lápis foi um dos principais fatores da crise econômica, mas também porque a operação não teve como consequência melhores práticas políticas. Pelo contrário, e não acho que foi acaso, os desdobramentos políticos têm a ver com os objetivos de juízes e procuradores, têm a ver com métodos e escolhas políticas da força-tarefa. E o resultado é que, depois de um golpista corrupto, temos agora um fascista corrupto na presidência, que não entende nada de economia mas é um expert em destruição. Poderíamos estar vivendo um momento muito melhor que este, se não caíssemos nas armadilhas. E só vamos sair dessa se cobrarmos a fatura dos que já são superricos mas querem lucrar ainda mais com nosso suor.
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