
Ivan Hegen
Ivan Hegen (Ivan Alexander Hegenberg) nasceu em São Paulo em 1980. Filho de dois psicanalistas, desde cedo aprendeu a questionar a verdade aparente e o senso comum. A escrita e a expressão visual são interesses que o acompanham por toda a vida, seja em desenvolvimentos independentes, seja na confluência das linguagens. Na infância era a elaboração de quadrinhos em parceria com o vizinho, que foi ganhando densidade após um curso com Luis Gê. Chegando à idade do vestibular, a grande dúvida foi cursar Letras ou Artes Plásticas, e somente após alguns rodeios Ivan concluiu pelo bacharelado em Pintura na USP. Durante os conturbados anos na ECA, dividiu esforços entre as tintas, teoria da arte e a escrita de seus dois primeiros livros. “A Grande Incógnita”, que reúne contos sobre crise de identidade, foi lançado no dia seguinte à exposição de formatura. Dois anos depois, em 2007, ganhou materialidade “Será”, em selo criado em parceria com Nelson de Oliveira, uma ficção distópica à beira do suicídio, sob forte influência de Nietzche.
Em 2009, vem à luz a primeira grande tentativa de conciliar literatura e artes visuais, com a publicação de “Puro Enquanto”, livro de prosa poética premiado pelo PROAC. Quase dez anos de anotações de sonhos são alinhavados em um fiapo de narrativa que tem seu ritmo pontuado por imagens de arte visual. Começava também a receber as primeiras críticas em órgãos de grande imprensa, com resenha favorável no Guia da Folha.
“Diagnósticos diferenciais para uma arte em crise”, livro-blog de 2010, sintetiza as inquietações teóricas que assaltaram o artista durante cerca de uma década. Na compilação de textos se encontra a insatisfação com algumas propostas de arte contemporânea supostamente das mais avançadas e mais conceituadas. Destaca-se a denúncia de obras cujo apelo seria o da antiarte, do suposto enfrentamento ao mercado, mas que apenas corroem a estética sem propiciar uma saída ética convincente. O livro-blog busca explicar porque e como isso ocorreu e esclarecer a fragilidade de poéticas que, afinal, necessitam de legitimação institucional para se passar por subversão. No entanto, por maior que tenha sido a vontade pessoal de resgatar uma liberdade artística de outros tempos, Hegen se percebeu refém de certos impasses teóricos. Se por um lado notava a hipocrisia de muitos artistas falsamente “antimercado”, por outro não podia ignorar que muitas das pinturas que gostaria de considerar “sinceras” adquirem um valor de venda tão exagerado que prejudica a contemplação estética.
O passo seguinte de Hegen foi se encontrar no elogio ao rock, que afinal pode estabelecer uma equação poderosa entre arte e vida, como se viu nos movimento da contracultura e nas lutas antiglobalização. Foi nesse espírito que lançou, em 2011, a coletânea “Rock Book”, com a participação de vinte grande escritores de nosso tempo, que em suas narrativas provaram que o som das guitarras elétricas influenciou muitas cabeças bem pensantes. Na sequência, publicou “A Lâmina que Fere Chronos”, contos repletos de humor e erotismo, reunindo ficção nonsense e alguns relatos de episódios biográficos quase inacreditáveis, como a convivência com terroristas poéticos, grupos anarquistas que realizavam performances desnorteadoras.
Somente com o mestrado, realizado entre 2014 e 2016, Ivan Hegen retomou boa parte de suas reflexões estéticas anteriores e pôde trabalhá-las com maior maturidade e rigor acadêmico, em um trabalho que investiga a influência da pintura na obra de sua escritora favorita. “Clarice Lispector e os limites da linguagem – um estudo interdisciplinar do romance Água Viva” debruça-se sobre a crise em que se encontra a produção estética contemporânea, mas constata alguma possibilidade de sobrevivência tanto para as artes visuais quanto para a literatura.
O mestrado foi defendido pouco antes do golpe parlamentar que destituiu Dilma Roussef da presidência, iniciando um ciclo de grandes retrocessos no Brasil. Atordoado pelo grave ataque à maioria da população, Ivan Hegen não aguentou se limitar aos posts e artigos esparsos que publicava na internet e se “alistou” no mandato de resistência do deputado federal Ivan Valente, do PSOL. Durante dois anos e meio, Hegen deixou em segundo plano sua produção artística e intelectual para se concentrar na tentativa de reverter a onda conservadora que assolava o país, trabalhando na comunicação de um dos mais respeitados parlamentares da esquerda latina. Lamentavelmente, não foi possível evitar o cenário mais sombrio, com a consolidação do fascismo através da eleição de Jair Bolsonaro, que chegou ao poder após uma campanha de ódio, impregnada de cinismo e preconceito mal disfarçado, fazendo uso inclusive de caixa 2 para disseminação de fake news.
Entre os projetos futuros de Ivan Hegen, estão a caminho um romance baseado na crise política brasileira e o desenvolvimento dos desinversos, fusão entre poemas e artes visuais que sintetiza grande parte de suas pesquisas estéticas. Aguardem!